*parte dos poemas de amor de um projecto intitulado "poesia ao quadrado - poesia nua deitada sobre si própria"
neste poema dás-me lume
e eu recebo o segredo do
fogo
este poema é o lugar dos
teus olhos nos meus olhos
instantâneo das estátuas
(invenção duma ilha)
este é o
poema do silêncio
o que se escreve com
palavras invisíveis
este poema sente na pele
um toque dado num sonho
neste poema surge o
desejo
invasão de corpos
selvagens
nas almas de manso
sossego
este poema é um beijo
o único que se escreve
com os lábios
este poema são os teus
dedos na minha pele
mil invisíveis insectos
cada um com mil patas,
caminham
este poema é um rio por
entre as tuas margens
leito de água ardente
onde vou desaguar
pelo simples prazer do
naufrágio
este poema é a doce
armadilha dos amantes
metade fogo, metade
artifício
este poema é a suprema eternidade do
instante:
estão abraçados no coito no miolo dum muro
construído depois deles
neste poema a legenda diz
sem palavras
este poema é melhor de um
dia para o outro
exactamente como o amor
neste poema os versos gemem como
quem denuncia
as unhas do poema na pele
da poesia
...
desculpem-me agora
um poema triste
o dum amor desempregado
míssil de
alma em riste
que explode em nenhum
lado
o poema adeus:
uma faca para cortar
relações
neste poema vive
um homem morto
esmagado pela falta
de outro corpo
não é
sem alguma revolta
que neste poema
se garante
que o tempo é
um remédio infantil para o amor
este é o poema
da saudade
ácido que
escorre a conta gotas...
- então, Tiago... queres fazer umas ilustrações para isto?... :)