4.2.10

amor ao quadrado*


*parte dos poemas de amor de um projecto intitulado "poesia ao quadrado - poesia nua deitada sobre si própria"





neste poema dás-me lume
e eu recebo o segredo do fogo




este poema é o lugar dos teus olhos nos meus olhos
instantâneo das estátuas
(invenção duma ilha)

 
este é o poema do silêncio
o que se escreve com palavras invisíveis


este poema sente na pele
um toque dado num sonho


neste poema surge o desejo
invasão de corpos selvagens
nas almas de manso sossego


este poema é um beijo
o único que se escreve com os lábios


este poema são os teus dedos na minha pele
mil invisíveis insectos
cada um com mil patas, caminham


este poema é um rio por entre as tuas margens
leito de água ardente onde vou desaguar
pelo simples prazer do naufrágio


este poema é a doce armadilha dos amantes
metade fogo, metade artifício


este poema é a suprema eternidade do instante:
estão abraçados no coito no miolo dum muro construído depois deles


neste poema a legenda diz
sem palavras


este poema é melhor de um dia para o outro
exactamente como o amor



neste poema os versos gemem como quem denuncia
as unhas do poema na pele da poesia


...
desculpem-me agora um poema triste
o dum amor desempregado
míssil de alma em riste
que explode em nenhum lado
 
 
o poema adeus:
uma faca para cortar relações
 
 
neste poema vive um homem morto
esmagado pela falta de outro corpo
 
 
não é sem alguma revolta
que neste poema se garante
que o tempo é um remédio infantil para o amor
 
 
este é o poema da saudade
ácido que escorre a conta gotas...





- então, Tiago... queres fazer umas ilustrações para isto?... :)

2 comentários:

Tiago Taron disse...

Meu Caro Picalima, proposta aceite (sem prazo de execução, boa?). Abraço.

ana disse...

ansiosa por ver isso
fico de olho nos dois... (passo a expressão, é claro!)